segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Comportamento Social no Behaviorismo Radical


O presente post trata de um resumo do Capítulo XIX (Comportamento social) do Livro Ciência e Comportamento Humano de B. F. Skinner.

Comportamento social

De acordo com B. F. Skinner o comportamento social constitui-se do comportamento de duas ou mais pessoas em relação a uma outra ou em relação ao ambiente comum. Os métodos das ciências naturais seriam capazes de explicar o comportamento social do indivíduo, uma vez que o comportamento por si só é sempre de um único organismo e ocorre por meio dos mesmos processos utilizados em uma situação não-social. Sendo assim, explicar o comportamento de pessoas em grupos não requer novas terminologias ou a pressuposição de novos processos ou princípios. Buscar uma teoria simples e objetiva é o caminho mais adequado no desenvolvimento científico e no caso da teoria comportamental, é possível, com poucos pressupostos, explicar a vasta gama de comportamentos humanos.

O ambiente social

Um organismo é relevante para outro, fazendo parte de seu ambiente. O comportamento social é mais extenso e flexível do que o comportamento individual reforçado por outros estímulos ambientais, pois o reforço social costuma abranger inúmeras variáveis, dependendo também da condição do agente reforçador. Um ser humano reforça outro de sua espécie, entretanto, os reforçadores que o sujeito A pode aplicar em uma dada ocasião em um sujeito B para fortalecer uma determinada resposta, podem variar em outra situação, na medida que o organismo que reforça também muda seu repertório comportamental de acordo com o estado de seu próprio organismo (o mundo sob a pele) e por estímulos punitivos e reforçadores que tenha recebido em suas outras interações sociais e com o ambiente em geral. Isso torna o repertório comportamental muito abrangente e extremamente passível de mudanças.
Pode-se dizer que os esquemas de reforço são particularmente relevantes no processo de interação social, pois a maioria dos comportamentos é estabelecido por reforços intermitentes. No comportamento de “chateação”, por exemplo, a pessoa é reforçada algumas vezes e não é punida por seu comportamento, até que ele se estabeleça de maneira variável. Quando esse comportamento ocorre em dada situação e não recebe mais o reforço apropriado, o que se pode observar é a emissão continua da resposta. Portanto, duas solicitações de respostas podem se transformar em seis ou mais, de maneira insistente. Diante da obtenção de sucesso em obter o reforço, o sujeito reforçado alcança um número cada vez maior de tentativas para obter o reforçador na medida que este funcionou anteriormente.
Quando um sujeito reforçador se torna difícil de contentar, o reforço fica contingente a um comportamento mais amplo ou altamente diferenciado. Um exemplo seria o do gerente de uma fábrica de peças automotivas que reforça o funcionário com um leve aumento de salário quando este aumenta a produção. O gerente é também reforçado pelo aumento na produção, exigindo assim, uma maior produtividade do funcionário que, consequentemente será levemente reforçado por bonificação, e assim sucessivamente. Este processo de reforço mútuo ocorre na maior parte das interações sociais.

O estímulo social

As outras pessoas fazem parte de um ambiente material constituindo-se do mesmo modo em estímulos. Na medida em que algumas propriedades desses estímulos são difíceis de serem descritos em termos físicos, é fácil supor que sejam um processo de intuição.
O sorriso, por exemplo, ultrapassa a capacidade de investigação do cientista, uma vez que há diversas formas de sorriso que ocorrem em diferentes situações. O sorriso, portanto, não é como uma forma geométrica, a qual pode-se estabelecer um critério preciso de descrição e avaliação. Essa forma de expressão facial pode ser, tanto “amigável” como “agressiva”, determinado pela cultura e história particular do indivíduo, e por suas consequências sociais.

O episódio social

Dois indivíduos em uma dada sociedade podem servir de estímulo um ao outro. O mesmo também ocorre com outros organismos. No comportamento de caça de um predador e de fuga de uma presa, uma redução na distância entre o predador e a presa é positivamente reforçadora para o predador e negativamente reforçadora para a presa; já um aumento na distância é negativamente reforçador para o predador e positivamente reforçador para a presa. O mesmo ocorre com os reforçadores verbais entre dois sujeitos que conversam, como quando um indivíduo se aproxima de um tópico delicado para o outro sujeito da conversa. Os estímulos verbais podem ter propriedades reforçadoras ou aversivas.
Dois indivíduos podem regular seu comportamento, um em relação ao outro na medida em que um estabelece seu papel como líder. Um exemplo seria na brincadeira do cabo de guerra, no qual um indivíduo estabelece um padrão rítmico para puxar a corda e o segundo regula seu comportamento com base no comportamento do primeiro. O primeiro consequentemente responderá apropriadamente a ação do segundo e assim sucessivamente, gerando-se assim uma ação conjunta. O mesmo tipo de interação pode ser observada em diversos comportamentos, como em uma dança. Uma vez que o líder também depende dos liderados, pode-se dizer que o líder também é controlado por eles.

Episódios verbais
Diz-se frequentemente que uma pessoa tem um efeito sobre outra além do limite das ciências físicas. Muitos desses exemplos são abrangidos pelo comportamento verbal. Uma análise mais aprofundada, no entanto, demonstra que esse efeito é passível de análise dos métodos científicos. Os sons representam vibrações de intensidade variada no ar e as estruturas vocais responsáveis por sua emissão fazem parte de uma esturura biológica do próprio organismo. Com as estruturas auditivas responsáveis pelo processo inicial de recepção dos sons ocorre o mesmo, sendo estes traduzidos em uma linguagem (informação) assimilada pelo sistema nervoso central. Para todos os efeitos esses eventos físico-químicos fazem parte do organismo e não constituem fenômenos ditos “mentais” no sentido de serem eventos imateriais e incapazes de serem compreendidos.
As palavras supostamente expressam ideias ou significados, porém é possível realizar uma análise típica das ciências naturais. O comportamento verbal que um indivíduo executa em relação a outro, como o pedir um cigarro ou pedir um copo d'água, não surte efeito em um ambiente puramente mecânico, mas foi condicionado por uma comunidade verbal, ainda que intermitentemente. O sujeito em algum ponto de sua história gerou uma discriminiação, de modo que a resposta não é emitida na ausência de um membro da comunidade. Discriminações mais sutis que tenham se constituído aumentam a probabilidade de responder na presença de determinadas pessoas.
Pode ocorrer que um sujeito B reforce a resposta no sujeito A ou assemelhe-se a alguém que o fez. Um exemplo, seria a criança que esta jogando futebol com os amigos e, com sede, decide bater na casa de uma mulher idosa pedindo um copo dágua. Nesse caso, o comportamento pode ocorrer devido ao sucesso na aquisição do copo d'água com outros mulheres idosas. Do mesmo modo, uma condição de privação, aumenta a probabilidade de emissão de um dado comportamento, tal como no exemplo supracitado (sede ou privação de água).
Pode-se também parear um estímulo aversivo a um determinado evento ou sequência de eventos. Por exemplo, o caso de um sujeito (A) que sempre caminha por um bairro perigoso e é frequentemente abordado por um sujeito (B) que lhe pede um cigarro. Suponha-se que, o sujeito B lhe peça um cigarro e o sujeito A não o dê. Seguido a isso, o sujeito B torna-se agressivo. Nesse caso um estímulo aversivo condicionado, fará com que o sujeito A só possa escapar concordando em um pedido futuro de cigarros por parte do sujeito B. Nessa situação hipotética, um “obrigado” do sujeito B após a obtenção do cigarro e seu respectivo afastamento sem apresentar qualquer estímulo aversivo em relação ao sujeito A, indicará uma redução na ameaça.

Interação instável

Diversos sistema sociais mostram uma mudança progressiva. Estímulos verbais, por exemplo, só costumam ser eficientes quando combinados com o comportamento de outros membros do grupo. Isso é comum em avisos de “Silêncio” ao entrar em uma biblioteca, se diversos sujeitos que já estão lá estiverem falando normalmente, o aviso teria pouco efeito. Se os indivíduos estivessem falando em voz baixa, a probabilidade daqueles que recém entraram de falar em voz baixa seria maior. Entretanto, bastaria alguns poucos indivíduos que estão sob menor grau de controle do aviso começarem a falar normalmente e a probabilidade de que o mesmo ocorra com os outros membros do grupo se elevará.
A interações mudam de momento a momento, na medida que uma resposta altera levemente a outra. Tal instabilidade pode ser percebida quando dois indivíduos se empenham em uma conversa casual que culmina em uma discussão repleta de insultos, podendo chegar ao nível da violência física.

Variáveis de suporte no episódio social

Geralmente as pessoas sempre tem algo a oferecer umas as outras, reforçando-se mutuamente. É assim que as relações se mantém.
É possível que o grupo realize a manipulação de variáveis específicas a fim de gerar tendências de comportamento que resultem no reforço de outros. O grupo pode reforçar um indivíduo por ajudar aos demais, por ser sincero e por retribuir favores; em determinadas situações e contextos, porém, ele pode reforçar comportamentos criminosos e egoístas.
Pode-se exemplificar a competição entre dois amigos. Quando o comportamento de um pode ser reforçado apenas à custa do comportamento do outro. Um comportamento de cooperação, no qual o reforço de um ou mais indivíduos depende do comportamento de ambos ou de todos, não se opõe a competição, requerindo um sistema intercruzado.
Os sistema interrelacional pode, porém, entrar em colapso. Isso é demonstrado quando um indivíduo que não é adequadamente controlado pela cultura adquire vantagem pessoal temporária por meio da exploração do sistema, gerando mentira, não retribuição de favores, quebra de compromissos, etc. Os sujeitos lesados após algum tempo deixam de ser responsivos a determinados estímulos que lhe são apresentados, gerando assim o colapso no sistema.

O grupo como uma unidade que se comporta

É sempre um único indivíduo que se comporta, ainda que possa se comportar junto a outros. Sendo assim, o entendimento do comportamento não exige qualquer método científico de origem diferente dos métodos de uma ciência natural.
É possível avaliar o que leva um jovem a se juntar a uma turma, bem como o que leva um homem a agredir alguém, bastando análisar as variáveis geradas pelos grupos que reforçam determinados tipos de comportamento, tais como a reunião e conformação.
As consequências reforçadoras produzidas pelo grupo excedem com facilidade as consequências que poderiam ser obtidas pelos membros que agissem separadamente. Comportar-se como outras pessoas se comportam tende a ter grande probabilidade de ser reforçado, do mesmo modo que olhar para uma vitrine em que todos estão olhando teria maior probabilidade de ser reforçador do que olhar para uma que não atraiu ninguém. Esse tipo de situação produz uma tendência a se comportar como os outros o fazem.
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