terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Caso 2 - Persuasão de paciente "anti-social"

SIMULAÇÃO DE ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO
A seguinte sessão de psicoterapia é dificil, devido ao comportamento disfuncional do paciente, Cleiton. Ele é um paciente que realiza terapia de longo prazo com o terapeuta cognitivo comportamental, devido a sua impulsividade e traços de personalidade anti-sociais. Na seguinte sessão ele demonstra raiva e sentimentos de vingança por um sujeito chamado Cláudio, com quem discutiu algumas vezes por questões pessoais. O terapeuta utiliza técnicas de persuasão, no que tange as consequências danosas de suas ações anti-sociais, de modo a direcioná-lo a ações mais adaptativas. Algumas das estratégias do terapeuta são pouco ortodoxas se pensarmos em pacientes mais adaptativos, mas se justificam no contexto da entrevista por sua efetividade e adequação ao estilo de personalidade do paciente.

TERAPEUTA: Você chegou aqui hoje e disse que estava pensando em reunir-se com uns amigos para bater no Cláudio. Pediu minha opinião, mas você já parece ter vindo com uma opinião formada a respeito...
CLEITON: (Olha um pouco zangado)
TERAPEUTA: Na verdade, percebo que você esta muito zangado nesse momento Cleiton, mas você precisa ver que esse momento vai passar, mas o mesmo nem sempre ocorre com as consequências de nossas ações...
TERAPEUTA: Você lembra do que me disse da última vez em que tomou uma atitude semelhante?
CLEITON: É, o desgraçado do Sérgio (uma rixa semelhante a atual que tem com Cláudio) tinha uns amigos de farda, e eles vieram nos dar uma surra. Ai a gente se ferrou...
TERAPEUTA: Exatamente.
CLEITON: É, mas dessa vez não vai acontecer...
TERAPEUTA: Como pode ter tanta certeza?
TERAPEUTA: Você tem o hábito de dizer isso, que as coisas não ocorrem com você. Mas ambos sabemos que as coisas não funcionam assim...
TERAPEUTA: Sua namorada discutiu muitas vezes com você e por fim terminou com você por causa disso, lembra?
TERAPEUTA: Terminou por causa desses comportamentos.
CLEITON: (O paciente fica em silêncio; parece sentir-se contrariado, mas reconhece o argumento como válido).
CLEITON: É, é foda, ela era boa de cama e fazia umas piadas engraçadas.
TERAPEUTA: Pois é. Me diga as coisas negativas que ocorreram com você das últimas vezes.
CLEITON: Argh! Sei lá, tomei multa aquela vez lá na estrada pra Porto Alegre, tomei um coro dos segurança da festa, e teve os caras de farda que eu falei. E perdi a guria também.
TERAPEUTA: Sim, não esta se esquecendo de nada?
CLEITON: (Fica sério em silêncio).
TERAPEUTA: Você também ganhou a inimizade de alguns caras que antes eram seus amigos, e também, terminou no hospital.
TERAPEUTA: Você gostaria mesmo de mais alguns problemas agora que esta indo tão bem no trabalho novo?
CLEITON: É é. Mas agora só não vai é vir me dizer que o cara tem mulher e filhos porque eu estou cagando pra eles. Quem mandou se meter comigo, esse filho da puta...
TERAPEUTA: Eu não estou dizendo isso Cleiton, e nem vou dizer, até porque sei que você não é do tipo que adora crianças...
CLEITON: (Ri)
TERAPEUTA: Ainda assim, há consequências que não afetam só a ele, mas também a você. E quanto mais você investe nisso, mais problemas você tem.
TERAPEUTA: Você já esteve preso há alguns anos e corre o risco de ir pra a cadeia de novo, mas dessa vez a justiça pode não pegar tão leve com você...
TERAPEUTA: E dessa vez, o que você acha que pode te acontecer?
CLEITON: Sei lá. Ah é, me disseram que o cara (Cláudio) anda armado também. Mas eu não tenho medo!
TERAPEUTA: Percebo que você é um cara corajoso, mas eu me pergunto se ele (Cláudio) vale a pena?
TERAPEUTA: Quando você chegou aqui hoje, você disse que ele te chamou de tudo que é nome. Mas se ele é um cara tão desgraçado, pra que perder tanto tempo com ele. Não vai me dizer que é apaixonado por ele né? (terapeuta fala em tom de brincadeira)
CLEITON: Que isso cara, ta me estranhando?
TERAPEUTA: (Sorri)
CLEITON: Porra, vai te fudê!.
CLEITON: (Fica quieto por um tempo e começa a rir).
TERAPEUTA: (Ri)
CLEITON: (continua rindo)
TERAPEUTA: Pois é, sinceramente não vejo porque perder tempo com isso. Mais vale você investir o tempo no seu novo trabalho e conquistar aquela gatinha ² de quem estava falando outro dia, lembra? É uma boa forma de não perder o tempo...
CLEITON: (Ri)
CLEITON: Ta safo cara, é, tu finalmente resolveu falar minha lingua hoje.
CLEITON: Foda-se o cara...
CLEITON: Ta, ta safo, nosso tempo terminou por hoje, to indo (ainda rindo um pouco).
CLEITON: (Vê o tempo terminando e se levanta pra sair)
CLEITON: (Se direciona para a porta sorrindo)
TERAPEUTA: Juízo Cleiton, juízo... Até porque quero te ver inteiro pra próxima sessão... e quero saber como foi com a Juliana (a “gatinha” a quem o terapeuta se referiu anteriormente).

REFLEXÃO: O aconselhamento visou modificar o humor de Cleiton e persuadí-lo para que ele não tomasse nenhuma atitude impulsiva, o que é comum nesse paciente. O estilo de personalidade utilizado pelo terapeuta é válido como estratégia de intervenção em um caso atípico (para maiores informações, pesquisem o livro: Psicoterapia cognitiva dos transtornos de personalidade - Aaron T. Beck e colaboradores).
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